O que vem depois?
O fim sempre foi um tema recorrente na minha vida, não consigo lembrar de um momento onde eu não entendesse do que a palavra fim se tratava, o término da aula, a última cena de um filme, o episódio final de um seriado, o último bombom de uma caixa, o fim de tarde onde os raios solares já se esvaiam, tudo isso sempre foi assimilado como um fim e sempre com facilidade, pois é isso que entendo sobre a vida, que ela é feita de inícios, meios e fins, praticamente em tudo e para tudo. O fim nunca me assustou, eu sempre o achei libertador, quando algo acaba, outra coisa pode começar, outra oportunidade pode surgir, o que vem depois do fim, me conforta.
O que me incomoda hoje é como eu construí essa ideia de fim, sem ao menos ter de me preocupar em pensar muito sobre isso, quando eu existi, tudo isso já estava apresentado para mim, os dias já tinham ciclos de 24 horas, os objetos tinham um número limitado de usos, os horários de início e fim das atividades, estavam marcados no relógio e eu sempre soube dizer quando era o último gole ou a última mordida, esses fins palpáveis me apresentados logo cedo, foram facílimos de assimilar, pois estavam ali, eu conseguia os ver e os tocar.
Mas uns dos fins com os quais não trabalhamos ou procuramos nos poupar de termos contato, são os fins que não podemos ver ou tocar, os fins que se dão no ar, que se vão sem aviso prévio, mesmo quando temos noção de que eles são uma certeza a qual preferimos negar, são dois, os tipos de fins mais específicos, o fim das relações, onde entramos em algo que sabemos ser incerto, mas com com tantas certezas criadas por nós mesmos, que logo esquecemos da possibilidade do fim. O "amor da minha vida", o "meu eterno bebê", o "meu melhor amigo", onde acreditamos piamente no para sempre, até que um dia o amor acaba, os filhos crescem e os amigos mudam, sofremos, mas não pelo fim e sim por termos passado tanto tempo tentando negar que ele fosse uma possibilidade real, para tudo e para todos.
O segundo fim inegável é a morte, o esvair da vida, o fim da aventura humana na terra (referências), sendo ela o clichê da única certeza que temos, ainda assim a evitamos, porque a morte sendo um fim assusta? Já vivemos com os fins palpáveis a todo o momento, porque queremos evitar saber sobre os impalpáveis? Para mim, o grande motivo é o de não sabermos ou sequer podermos calcular, quando esse fim chegará, não podendo assim, nos prepararmos, diferente de quando você nota que o dia esta no fim, porque o sol está se pondo, a morte não se põe, ela é um fim que só acontece. E sofremos, e mais uma vez por não termos tido tempo de nos permitirmos admitir que esse fim era concreto, a única certeza que temos, mas certamente a que todos preferimos fingir que não está ali, que ficará pra depois e quando esse depois chega, não sabemos como lidar com ele, pois passamos muito tempo evitando falar sobre o fim da vida. O que vem depois? Essa é a curiosidade que me alimenta, eu não tenho medo de falar, discutir e olhar para esse fim, eu sempre quis torná-lo palpável, assim como os outros fins dos quais já me acostumei. Não vejo o fim da vida como algo maligno, mas sofremos, porque quando esse fim chega, ainda não temos todas as respostas que desejávamos para ele, e por termos evitado pensar sobre ele esse tempo todo, é que essas respostas não vieram.
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